sexta-feira, outubro 20, 2006

E Estamos Conversados
Arnaldo Antunes

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando
cochichando e reclamando
o que eles querem mesmo é reclamar

Como uma risada na minha orelha
ou como uma abelha ou qualquer outra coisa pentelha
sobre as vidas alheias ou como elas são feias
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos que todo mundo já sabe
ou se não sabe desconfia

Eu não vou mais ficar ouvindo distraído
eles falarem deles
e do que eles fariam se fosse com eles
e o que eles não fazem de jeito nenhum
como se interessasse a qualquer um

Eles são as pessoas todas todas as pessoas
fora os mudos
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador
campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais
pelo menos por enquanto

Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico
E estamos conversados.

terça-feira, outubro 03, 2006

Ok, desculpe quem vier ler isto e nunca encontre nada mais do que desabafos. É que às vezes bate uma tristeza e revolta que me deixa triste e revoltada demais.... rs
Então me desculpem, mas eu quero muito contar:
É que cada vez mais tenho certeza que enquanto cada um olhar apenas para seu próprio umbigo nada deste mundo que é esse desastre que aí está poderá ser diferente ou melhor. E ah, não se trata de querer ser falsa moralista e muito menos exemplo de tudo o que há de bom. Mas existem coisas que eu acho que não dá pra negar, independente de crenças e visões diversas... e um mínimo de respeito com quem está perto, com quem vai ser atendido num balcão qualquer, com quem está no carro ao lado, com quem anda com a gente de ônibus, com quem está atravessando a rua quando acaba de mudar a cor da luz que está lá, não faz mal a ninguém e poderia ter conseqüencias boas, poxa, pra todo mundo.
Não é o fato de terem me batido com objetos não identificáveis na cara enquanto eu dormia no ônibus aparentemente de propósito, nem o fato de terem quase me atropelado porque o maldito sinal mudou enquanto eu estava no meio da rua que me leva a dizer isto tudo, mas uma infinidade de pequenas mesquinharias que uns fazem aos outros, e que parecem gerar uma frieza generalizada, da qual eu queria muito me recusar a compartilhar, mas tá ficando difícil...
Conversando com um amigo sobre isso, ele disse que temos o costume acomodado de sempre culpar os "outros", os políticos etc.... e ele disse que, mesmo que tenhamos como líder político o homem mais honesto de todos, enquanto cada um agir de maneira egoísta e indiferente vai ficar tudo essa mesma coisa nojenta que aí está. Concordo com ele.
Acho que não custa nada, ou só um pouco, olhar com um tiquinho a mais de respeito e esforço com quem está por perto. Cada um faz parte da vida de tantos outros também, e, na boa, às vezes cada um de nós merece um tapa na cara, mas de tão chatos nem percebemos.