quarta-feira, setembro 30, 2009

Para ser humano basta ser humano

Cada vez fica mais evidente para mim, por auto-observação e conclusões de pessoas próximas, que grande parte de minhas dores de cabeça se devem à grande cobrança que recebo, em grande parte vinda de mim mesma. E outras cobranças que existem, implícita ou explicitamente e que fazem parte da vida, têm me incomodado mais. Preciso, definitivamente, colocar muitas coisas no lugar, mas tudo com muita calma...

Não vou conseguir agora desenvolver isso melhor, embora tenha vontade, mas vou colocar trechos de uma música do Ira! que gosto muito, e voltou aos meus ouvidos recentemente, como uma agradável surpresa. Sei que é viagem, mas gosto da parte que diz "para ser humano basta ser humano". Acredito que pode existir um segundo sentido, além do que aparece à primeira vista. Algo do tipo para um ser humano, outro ser humano basta (ou outros). Enfim, aí vai:

Para ser Humano (Edgar Scandurra)

Para ser humano não precisa ser um herói
Basta ser humano como qualquer um de nós
Para ser humano não precisa ser tão racional
Basta ser humano e apelar para o emocional

Para ser humano não precisa se esforçar
Basta acenar com a mão
E a cabeça balançar

Pode até mentir, pode até chorar
Pode até sorrir, pode até matar

Para ser humano, basta ser humano
(...)
Para ser humano
De se corromper
Pois é sempre a um preço baixo
Que você vai se vender

Não é só comer e beber
Não é só comemorar
Tem que olhar pra si
E não se enganar
Porque esse é um mundo injusto
A se autodetonar
Porque esse é um mundo incerto
Que seus filhos vão habitar

(...)

Tente se reerguer
Tente se estruturar
Olhe para o ser humano
E tente nele confiar
Porque esse é um mundo injusto
A se autodetonar
Porque esse é um mundo incerto
Que seus filhos vão habitar

sexta-feira, setembro 18, 2009

Ultra-sentimentalismo

Costumo ser muito intensa em tudo o que faço. Se é pra sofrer, sofro até o fundo bem fundo do poço. Se é pra amar, amo até não saber mais dos limites. (A medida de amar é amar sem medida...) Se me angustio ou tenho dúvidas, fico imersa em pensamentos confusos, exagero as coisas, vou sempre além... E não sei o que é "não entrar de cabeça". Não dá pra estar mais ou menos de um jeito ou de outro... Sei que isso algumas vezes não é saudável. Às vezes, volto à razão, mas tem que ser no meu tempo, do meu jeito, e depois de sentir coisas diversas, confusas, intensas...

Acho que é um pouco por isso que me identifico com um certo tipo de literatura que, por aqui, ficou conhecido como ultra-romantismo. Tudo é tão intenso, profundo, íntimo, tanta coisa... A vida no geral durava, também, nesses tempos, bem menos do que hoje, e talvez por isso tanta intensidade. Álvares de Azevedo (meu favorito da época) morreu com 22 anos.
Conheci poemas de um autor espanhol que me fizeram sentir em casa, por sua expressão intensa de sentimentos, sofrimentos, amor, angústia... que lembra muito o que rolou aqui no Brasil, acredito que não por acaso, na mesma época (na Espanha conhecida como Romanticismo). Pretendo investigar um pouco mais sobre isso, e por enquanto, deixo um poema dele aqui:

No sé lo que he soñado
en la noche pasada.
Triste, muy triste debió ser el sueño,
pues despierto la angustia me duraba.

Noté al incorporarme,
húmeda la almohada,
y por primera vez, sentí, al notarlo,
de un amargo placer henchirse el alma.

Triste cosa es el sueño

que llanto nos arranca,
mas tengo en mi tristeza una alegría...
¡Sé que aún me quedan lágrimas!

(Rima LXVIII, Gustavo Adolfo Becquer)

terça-feira, setembro 15, 2009

Nada

Gosto sempre de pensar neste espaço como um cantinho para dividir, escrever, refletir e receber impressões. O problema é que tenho tanto preconceito contra o que eu mesma sinto, penso, escrevo e desejo, que acabo nunca publicando as coisas que até me parecem legais. É claro que não devo mais nem ter "leitores" a esta altura, rs; já ouvi mais de uma vez que pararam de visitar o blog porque nunca havia novidades... por isso peço desculpas.

Recentemente li um livro que gostei mais do que imaginava, apesar da leitura ter sido obrigatória. Aliás, já tive tantas surpresas mesmo com as obrigações ou em dias que não havia nada de diferente aparentemente previsto, e acho isso o máximo. O previsível muitas vezes guarda surpresas tão especiais... (surpresas mórbidas tb, mas deixa pra depois).

Voltando ao livro, chama-se "Nada", e seu enredo sensível e obscuro é surpreendente. Além disso, me possibilitou responder várias vezes "Nada", quando, ao me ver lendo, alguém me perguntava o que era. rs! Deixo um trecho abaixo, e prometo visitar mais este cantinho. ;-)

O banheiro parecia uma casa mal-assombrada. As paredes escurecidas conservavam o rastro de mãos crispadas, de gritos de desespero. Por toda parte as lascaduras abriam bocas desdentadas babando umidade. Acima do espelho, porque não cabia em outro lugar, tinham pendurado uma macabra natureza-morta com peixes olhudos e pálidos e cebolas contra um fundo preto. A loucura sorria nas torneiras retorcidas.
(Nada, Carmen Laforet)